sexta-feira, 11 de junho de 2010

Poemas inconjuntos - 2

Poemas inconjuntos - 2

VERDADE, MENTIRA, certeza, incerteza...

Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.

Estou sentado num degrau alto dos joelhos cruzados.

Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza são as mesmas?

Qualquer cousa mudou numa parte da realidade –

Os meus joelhos já não são as minhas mãos.

Qual a ciência que tem conhecimento para isto?

O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.

Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.

Ser real é isto.

Fonte

PESSOA, Fernando. Ficções do interlúdio I: poemas completos de Alberto Caeiro.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 105.

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