Poemas inconjuntos - 2
VERDADE, MENTIRA, certeza, incerteza...
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza são as mesmas?
Qualquer cousa mudou numa parte da realidade –
Os meus joelhos já não são as minhas mãos.
Qual a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.
Fonte
PESSOA, Fernando. Ficções do interlúdio I: poemas completos de Alberto Caeiro.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 105.
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